domingo, 26 de junho de 2011

A construção de um objeto de pesquisa: problematizando a interdisciplinaridade


A construção de um objeto de pesquisa: problematizando a interdisciplinaridade[1]

Zaia Brandão questiona a possibilidade de uma prática interdisciplinar sem o fundamento em uma sólida experiência disciplinar. Como base para discussão a autora utilizou sua própria experiência de construção em um objeto de pesquisa em História da Educação.
Fazendo uma critica acirrada a interdisciplinaridade no livro Pesquisa em Educação-conversas com pós-graduandos. Diferentemente do que temos observados na licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, onde a interdisciplinaridade, foi e será pano de fundo de conteúdos diversos. A autora relata que mesmo diante de inúmeros argumentos a favor da interdisciplinaridade, sua defesa é a prioridade do aprendizado e prática disciplinar no qual ela denomina de antídoto ao aligeiramento das práticas interdisciplinares.
Bourdieu (1990), a respeito da interdisciplinaridade, salienta a uma necessidade de um “cultura teórica” como uma espécie de capital cultural especifico que permite ao pesquisador ter um “panorama das posições cientificamente pertinentes num dado estágio da ciência”. É uma cultura teórica que garantiria opções teórico-metodológicas adequadas aos problemas específicos de pesquisa.
Para Brandão o apelo à interdisciplinaridade se deve a flexibilização das fronteiras nas áreas do conhecimento. A interdisciplinaridade pode promover maior entendimento do que está sendo pesquisado. Porém os usos do vocabulário, das referências e da literatura diversificados não asseguram uma prática interdisciplinar consistente. Esse apelo à interdisciplinaridade ao objeto de pesquisa, seja pelas exigências do próprio objeto ou pela flexibilização das fronteiras disciplinares, pode provocar a ausência de rigorosidade nas pesquisas.
Outros teóricos como Nosella & Buffa (2009) ressaltam a dificuldade encontradas por alguns pós-graduandos como a escassez de capital cultural, esses indivíduos sofrem as limitações inerentes ao contexto sócio econômico e cultural. O trabalho interdisciplinar defendido por Brandão transcreve Bourdieu (1989, 1990) exigiria uma ampla base disciplinar ancorada em uma cultura filosófica e teórica, cada vez mais rara entre as novas gerações de pesquisadores.
Problematizando as memórias na construção de sua pesquisa, que abordava os Pioneiros da Educação Nova como os pioneiros pela construção de um sistema público de ensino no Brasil, Brandão relata suas dificuldades para fundamentar as hipóteses iniciais, no qual levou a problematizar o percurso da historiografia no qual serviu de base. Essas hipóteses levantadas pela autora a incentivou a reanalisar o material coletado, sobre “movimento de modernização da educação”. Um dos questionamentos da autora era por que os educadores envolvidos no movimento da Escola Nova, e responsáveis pelos primeiros esforços de ampliação e organização da escola pública entre nós, vinham sendo transmutados pela literatura especializada de heróis em vilões?
De heróis a vilões (Historiografia da Educação à História), Brandão aborda que durante anos a memória dos signatários do Manifesto dos pioneiros da Escola Nova, foi cultuada, pois foram visto como responsáveis pela construção de um sistema publico de ensino no Brasil. Já na década de 80 ocorreu um reverso se tornaram vilões, acontecendo neste período a reflexão histórico filosófica de extração marxista no campo da educação, partindo da premissa sobe o caráter conservador da ideologia liberal, ao avaliar historicamente o processo de democratização da escola no Brasil.
Problematizando as memórias Brandão relata suas dificuldades para fundamentar as hipóteses iniciais, no qual levou a problematizar o percurso da historiografia no qual serviu de base.
As hipóteses como: a transmutação pela literatura especializada de sujeitos heróicos a vilões, a reprodução das criticas, ao movimento da Escola Nova e como trabalhar as diferentes memórias no processo de construção historiográfica.
A autora relata o que denominou de “mergulho disciplinar” gradativamente foi incorporando as dúvidas, imprecisões e as próprias ambigüidades ao estudo e pesquisa. Essa dificuldade entre o distanciamento da historiografia que a autora produzia, em relação à historiografia e as questões que mobilizavam os historiadores de ofício fez com que ela produzisse um mergulho disciplinar que  gradativamente foi incorporando as dúvidas, imprecisões e as próprias ambigüidades ao estudo e pesquisa.
As ideologias como influência: A prática profissional e a militância política segundo a autora era bem dividido a classificação dos movimentos educacionais, entre conservadores e progressista. Fica claro que neste período histórico o que é conservador era a manutenção da escola tradicional e o que progressista a Escola Nova e seu manifesto e os signatários do mesmo (Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova) na qual exigiam educação publica, gratuita e leiga para todos como responsabilidade do Estado.
Brandão segue relatando sobre a construção do objeto de pesquisa em História da Educação, contribuiu para aprofundar o processo de autocrítica. Sobre as condições que estavam sendo produzidas pesquisas no campo da História da Educação.
A autora indaga: ”estarão os nossos programas de pós-graduação aptos a fornecer às novas gerações de pesquisadores em educação a cultura teórica, de que fala Bourdieu, que garantiria a possibilidade de saltar as cercas quando as exigências desafiadoras do conhecimento exigirem ?
A teoria como hipótese dá como significados no campo cientifico, no questionamento numa certa tradição de verdade, que tendo a objetivação ou cristalização dos resultados da investigação científica.
O campo da educação pesquisa educacional, é largamente criticado, pois, tem a tendência a reproduzir “discursos sobre teorias”, ao invés de operar criticamente com as referências teóricas, e à progressão do conhecimento em educação, a doutora em pesquisa salienta, que não ocorre compatibilidade com as outras áreas das ciências humanas e sociais”. Entendemos que essa linha de pesquisa dentro do campo da História da Educação, não trabalha progressivamente o conhecimento em Educação e não faz uma comparação com outras áreas das ciências humanas e sociais.
A procura do estatuto científico, Brandão menciona que a partir da década de 70, “proliferaram as criticas ao positivismo implícito na suposição da objetividade dos ‘dados’ coletados pelos pesquisadores que modelavam suas pesquisas pela tradição das ciências da natureza no campo da educação”. Brandão  (p.66). A leitura que fazemos sobre o positivismo na pesquisa, é da macro História, ou seja a história contada pela ótica Eurocêntrica.
A procura da identidade científica, empobrecimento causado pela repetição das referências teóricas, entretanto ocorreu atos indesejáveis nos programas de pós-graduação, referentes ao avanço do conhecimento. A procura da hegemonia teórica, a autora ressalta o saldo positivo referente à proliferação dos programas de pós-graduação em educação, a luta pelo reconhecimento entre os pares da comunidade acadêmica e os conhecimentos produzidos pelos educadores.
A fala hegemônica no interior da comunidade especializada entende-se que é o acesso aos comitês de avaliação dos órgãos de financiamento, a constituição de um público consumidor, acesso privilegiado aos fóruns especializados, que garantem lugar cativo nas principais publicações técnicas e editoras. Leia se como capitais simbólicos dos grupos que detém a hegemonia teórica.
Consciência dos limites e o desprestígio da área, assim como para retardar a criação de uma massa crítica, ao nível das pós-graduações que viabilizasse a renovação dos parâmetros e estratégias de pesquisa.
Para Brandão ser competente significa ter uma razoável capacidade de estar antenado ao movimento e debates de muitas outras áreas. Os  programas de pós-graduação de ensino ( PPGE) têm sido um campo fértil para semeadura dos exclusivismo ou modismo teórico\metodológicos.
A teoria é, nesta ótica, sempre uma hipótese. O processo de fazer pesquisa dentro de um rigoroso programa de estudo das tradições de reflexão (clássicos no esquema), sobre o problema, questão ou tema em foco permite a familiarização com a linguagem, a lógica e a dinâmica geradas pelo processo de produção de conhecimento. Entendemos que a práxis nos possibilita o domínio na linguagem, da lógica e da dinâmica.


[1] Anotações do 5o encontro de 2011, do grupo de estudo e pesquisa Retalhos Epistemológicos. Conteúdo baseado em BRANDAO, Z. Pesquisa em educação: conversas com pós-graduandos. Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2002.

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